quarta-feira, 2 de julho de 2008

Teoria da Estruturação

Teoria da estruturação

No livro A constituição da sociedade Giddens apresenta a versão da sociologia estrutural de Blau (que ele contesta). Este defende que numa organização à medida que vai crescendo, vão havendo especificações aumentando a complexidade.
Blau diz: “o tamanho crescente de uma organização produz maior diferenciação interna e, por conseguinte, eleva a proporção de pessoal administrativo naquela contida” sem ser pertinente julgar os motivos dos indivíduos nas organizações (que Giddens contesta).
Giddens considera isto estrutural (os motivos do indivíduos). Mas Peter Blau põe entre parênteses as intenções dos indivíduos, a subjectividade, as suas motivações. Giddens concorda com a primeira parte da declaração mas não com a segunda parte. Giddens diz que os actores reagem intencionalmente ao que eles consideram ser novos problemas dentro das organizações, interpretando os problemas, definem metas e tecem estratégias diferentes de acordo com aquilo que eles pensam, que consideram subjectivamente. É por isso que algumas empresas progridem e outras vão à falência. Ele acrescenta: “aqueles que administram as organizações possuem as suas próprias teorias em uso sobre elas e podem na verdade estar ao corrente da literatura académica sobre o assunto”.
Os actores agem intencionalmente com certo grau de liberdade de acordo com as suas metas, mas é uma acção condicionada por certos limites. O exemplo utilizado neste texto é de Thompson sobre a leitura da classe trabalhadora Inglesa, Giddens concorda com a ideia de Thompson de que a classe trabalhadora não foi só feita pela história (pela estrutura) mas também pela acção. Para a visão marxista clássica a classe operaria era um produto mais ou menos automático do capitalismo. Giddens não concorda.
Sem a industrialização não haveria proletariado industrial, o êxodo rural para a indústria, transformou as massas camponesas em massas industriais deixando-as sujeitos ao desemprego e as más condições de trabalho, e de certo modo, favorecendo o sentimento de revolta nessas condições.


A exploração intensiva dos trabalhadores pela classe burguesa no contexto da acumulação primitiva, quando o novo modelo arranca. No entanto não houve esses condicionalismos estruturais, mas também vontade por parte dos trabalhadores para agir contra as más condições de trabalho.
As representações que classe trabalhadora e os intelectuais faziam sobre ela mesma, foram tão importantes quanto a estrutura. Sem a convicção, sem a sua subjectividade, a classe trabalhadora não teria a emoção mobilizadora que teve nos séculos XVIII e XIX.
O termo Dualidade da Estrutura refere-se à estrutura (constrangimento), mas também à acção, a noção de constrangimento tem dois sentidos: o de inibição, e o de estímulo.
Constrangimento inibitório na acção da classe, a greve (e o facto de trabalhador não receber salário), a organização de piquetes de greve para impedir quem quer trabalhar. O facto de não terem riqueza acumulada, não serem donos dos meios de produção e de não terem nada a perder.
Em qualquer um dos casos os trabalhadores dos séculos XVIII e XIX poderiam ter agido de forma diferente. Há de facto a estrutura, mas há sempre um resquício de liberdade subjacente áquela ideia de acção, ou seja, essa estrutura constrangeu e agiu.
Aquela estrutura (capitalista dos séculos XVIII e XIX) foi meio que permitiu a acção operária trabalhista, onde se deram varias reformas políticas, legislaturas modernas, sendo assim também ela alterada, ou seja, a estrutura é o meio de acção pelo qual se dá a alteração da estrutura.
Foram naquelas condições da estrutura socioeconómica que fizeram alterar a estrutura, surgi assim, uma nova estrutura, que é resultado da acção (é uma relação dialéctica). Assim, a estrutura é, ao mesmo tempo, condição da acção e resultado da acção, ou meio da acção e consequência da acção, a estrutura incorpora-se na acção e a acção incorpora-se na estrutura.
É nesse sentido que Giddens fala muitas vezes do “agir estruturalmente”, expressão que conjuga acção (liberdade) e estrutura (constrangimentos), algumas consequências da acção são intencionais e outras condições da acção são desconhecidas.
Giddens, Anthony, A constituição da sociedade, pp. 169-180.


Segundo Giddens, a estrutura é condição e resultado da acção, ou seja, as duas relacionam-se; é o meio e a consequência.
Neste esquema, Giddens chama a atenção para a ideia de estruturação, ou seja, tem a ideia contraria de Bourdieu (reprodução). Em Giddens, a ideia de reprodução não é preponderante, ele fala em transformação. Alem da própria ideia de reprodução existe a transformação social, a mudança social.
Este autor dá um exemplo muito simples, que é o de conversa informal entre duas pessoas. Aqui, existe produção (de uma frase). Depois há uma reprodução (da língua portuguesa como um todo), existem também as condições conhecidas da acção, pois as duas pessoas vêem-se e as condições desconhecidas da acção, ou seja, há sempre algo que não sabe, nem que seja o que o outro está a pensar. Há consequências intencionais (aquilo que a pessoa pensa e diz) e não intencionais (o que escapa á pessoa).
Por vezes surge a acção, outras vezes surge, agencia. Em sentido restrito estes dois conceitos não significam a mesma coisa, “a acção é um processo continuo…” “a agencia diz respeito a acontecimentos dos quais um individuo é o causador…refere-se as praticas situadas.
Na linguagem corrente, a palavra agencia consiste no indivíduo isolado, ou seja, a capacidade que um indivíduo ou organização tem de tomar decisão acerca de algo que tem consequências importantes para si. E é neste sentido que surge a palavra agencia.
A acção é intencional, isto é, quando agimos, agimos propositadamente. A acção também é “racional” pois é explicada pelo actor. A isto, Giddens chama de monitorização reflexiva porque sabemos quando as coisas estão bem ou mal.
De acordo com Giddens, a estrutura não existe materialmente/fisicamente. Existe como algo virtual. Por exemplo, as práticas não têm estruturas; mas de qualquer forma têm propriedades estruturais, “as estruturas são propriedades dos sistemas.”
O sistema existe, “ mas como relações reproduzidas regularmente entre actores sociais”. O sistema consiste nas práticas orientadas pelas propriedades estruturais, que são regras e recursos em profundidade, ou seja, aquilo que realmente existe.
Giddens, “Dualidade da estrutura”, “A constituição da sociedade”


Segundo artigo desta revista, Giddens é o sociólogo que tenta explicar a articulação entre sociedade e individuo, estabelecer uma abordagem das ciências sociais para afastar o pensamento existente no senso comum a respeito da sociedade e indivíduo.
Assim do ponto de vista metodológica, realiza uma síntese entre a sociologia estrutural e o funcionalismo, de forma que conjugue estrutura e acção numa só.
Pois Giddens considera que a estrutura e acção estão inteiramente ligados, se bem que uma é condição da outra enquanto que outra é consequência da outra.
Na obra Em defesa da sociologia, Giddens procura demonstrar como que o senso comum apropria conhecimentos das ciências sociais de modo a relê-los e reinterpretá-los, conferindo-os uma nova roupagem. As ciências sociais ao estudar o senso comum, promovem uma leitura das concepções deste senso, de modo a apropriá-las e reinterpretá-las á luz das teorias sociais.
A teoria de estruturação de Giddens, funda na produção e reprodução da sociedade. No seu livro A constituição da sociedade mostra claramente que estudar um sistema social significa estudar diversas maneiras pelas quais ele é produzido e reproduzido, interagindo com a contingência da aplicação das regras e recursos generativos em contextos não-premeditados.
O indivíduo recebe um patamar privilegiado na teoria da estruturação, pois depende da sua consciência as condições e consequências de seus actos.

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